sábado, 30 de agosto de 2014

3 Reservados em um beijo

Nas férias do outro ano, quando fomos viajar, achei que ia ser ali, na praia! Aquela paisagem, aquelas pedras, a areia e nós ficamos olhando o pôr do sol. Na época eu era bem apreensiva e nunca tinha ficado com ninguém, não tinha muita noção da realidade na verdade. Imaginei a gente num banquinho que tinha de frente aquela paisagem na chácara. Pensei na gente chegando e sentando lá. Então, depois de uma longa conversa sobre a vida, no finalzinho da tarde. Primeiro ia tocar nos meus lábios com os dedos, bem devagar, depois sua boca tocaria em meus lábios suavemente. E aí, já estava tudo perdido mesmo. kkkkk
___ Nossa até imaginei aqui... hmmm eu pensei algo parecido. Que paisagem! Você colocou meu nome na foto do lago. E tenho nossa foto na parede do meu quarto...
___ A foto que chegamos juntos de manhã no mesmo lugar.
___ No brejooo...
___ Eu disse que iria pra lá!
___ Eu estava lá primeiro tirando foto. kkkkkkkkk
___ Eu cheguei por querer, quanto mais perto de você sempre era melhor!
___ Ninguém sabia que eu tava lá, na verdade uma parte da viagem você não sabe.
___ Eu sabia! Lembra das senhoras achando que éramos namorados?
___ Na ida você me disse que não tava afim de namorar na época. Disse que era novo e tal, queria aproveitar.
___ Falaram que éramos um casal abençoado hehe.
___ E as meninas também que sentaram ao nosso lado. Umas gente boa de Aramina!
___ Verdade, que tomavam dramim pra dormir, as mais lindas! Gente finíssimas. As mais lindas no sentido de pessoas legais.
___ Hmmmm... as mais lindas! 
___ Nem... Eram de idade hehe.
___ Engraçadinho.
___ Eu sempe fui comunicativo, nem vem.

Era noite, ainda, quando as mãos se tocavam intesantemente em leves toques. Até que seus dedos acariciaram o rosto dela e um suave carinho com a ponta dos dedos nos lábios dela. Era incrível como num simples gesto ele fazia a alma dela arrepiar de desejo. E, assim, delicadamente suas faces se procuraram naquela escuridão e com as mãos ele podia saber exatamente onde cada parte do corpo dela estava. E foram aos poucos se aproximando e, enfim, ela sentiu pela primeira vez o calor de seus lábios. Mais pareciam nuvens de tão macios, tão saborosos como chocolate de avelã e a sensação era como se sentisse o alívio da brisa no verão. O desejo realizado, tanto esperado. Durante um tempo, apenas o que faziam era sentir um ao outro. Esquecendo por onde haviam passado, suas diferenças, suas esperas, vontades, sentidos e sentimentos. Reservados e despertados em um simples beijo.

___ Se esquece fácil das coisas.
___ Não me recordo.
___ Como nao se esqueceu de meu beijo?
___ Eu esqueci.
___ Ah!
___ Brincadeira.
___ Tá explicado nós...
___ Por que tá explicado? Mas já faz muito tempo.
___ Faz... muito.
___ Entao, triste não?
___ Triste até demais.
___ Você tem vontade de me beijar de novo?
___ Sem sombra de dúvidas. Tenho sim. E vou ter sempre.
___ Gracinha! Fala assim ñao.
___ Não me pergunte, que nao falo!
___ Ah fala sério, tem nada não. E na época tinha vontade ou depois que beijou passou??
___ Nunca perdi a vontade...

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Presente de dia das Pães



Resolvi comprar um fogão e como todo mundo faz pesquisei preços, analisei marcas, cores, tamanhos, funcionalidades, qualidades, design etc. Fui à várias lojas e olhei preços, pobre é foda, é desse jeito. Tem que pechinchar! Então, escolhi o modelo que queria e o preço que podia pagar e a loja mais em conta. Levei minha mãe para ver também, afinal era meu presente de dia das mães para ela. Demorei nesse processo entre pesquisa do melhor fogão e melhor preço, por isso quando achei o que queria, exatamente como eu gostaria e do preço satisfatório, não tinha mais rsrsrs a fábrica da marca que escolhi estava fechando, mudando de nome, ou sei lá o que. O modelo que eu tinha queria estava esgotado. O vendedor disse que me ligaria. Passou uma, duas semanas e nada. Mostrou um imenso interesse para quem vive de comissões. Daí passando pela filial da mesma loja resolvi entrar e ver se tinha chegado. Conversei com a vendedora e ela muito prestativa me disse que tinha do jeitinho que eu queria, porém num modelo mais novo, com design diferente. Então, fechei a compra e em uma semana chegaria o produto.

Passaram-se alguns dias, chegou antes mesmo do esperado, mas era feio pra caramba, não tinha nada a ver com o imaginado, era totalmente diferente não tinha prateleiras deslizantes como eu havia sonhado. Fui até à loja, na mesma hora, enraivecida e falei com a vendedora que não era nem parecido com o outro modelo antigo, o que eu queria. Pedi pra trocar, então ela procurou no estoque da loja e havia uma única peça igual ao que eu queria. Ela efetuou a troca e disse que em vinte dias chegaria, e se perguntou se podia ser assim; concordei.

Passaram-se vinte, vinte um, vinte e dois... trinta dias e eu ligando para saber cadê. Foi, então, que depois de muita enrolação me informaram que eles não tinha mais o produto, que a fábrica daquela marca tinha fechado e não tinha como atender minha compra. Fui pesquisar um modelo como o que eu queria antes, como da primeira vez que fui comprar, escolhi a outra marca que era também uma das melhores. Fui à loja pra efetuar a troca ou pedir reembolso e após horas aguardando, não puderam fazer nada.

Saí de lá revoltada, chateada, com fome, irada e com vontade de quebrar o lugar, mas não o fiz. Não quiseram me fazer o preço mais barato que encontrei no mercado, conforme o modelo e marca que eu pedi. Mas continuei pensando positivo e que uma hora daria certo. Começo de mês, entretanto, eu não havia recebido ainda e teria mais três dias para estornar meu limite do cartão. Aguardei mais uns dias e esperando que o preço abaixasse e nada. Só foi aumentando cada dia mais. Já era agosto, depois de tanta demora eu nem me preocupava com o tempo mais... até comprar, chegar e dar tudo certo era o dia das mães do outro ano.

Passou o dia dos pais e fui trocar uma camisa que meu pai havia ganhado. Perguntei as vendedoras onde trocava e elas disseram que tinha que ir no último andar. Atordoada não acreditei que tinha que subir tantas escadas, esperar em uma fila gigante pra fazer e que estava super atrasada. Trocar é mais difícil que comprar, porque às vezes a gente não acha camisa do mesmo tamanho, da cor e jeito como a pessoa quer, ainda mais quando nem é pra você mesma, uma missão impossível rsrsrs. Por isso, ou a gente faz uma compra bem feita ou não adianta, vai ter que ficar trocando e mandando consertar pro resto da vida, acontece em muitos relacionamentos.

Foi quando ao chegar no último andar da loja avistei alguns fogões. Já estava bem atrasada mesmo assim resolvi olhar e ver os preços, era o único lugar da cidade que eu não tinha ido. De repente, vi como que em um sonho o fogão que estava querendo desde o começo. Era peça de mostruário, estava ali o tempo todo, escondidinho me esperando. Chamei o vendedor e perguntei o preço e se só tinha aquela peça, pois eu não havia conseguido comprar em lugar nenhum mais daquele modelo. Ele checou e não tinha mais peças disponíveis, somente aquela e tinha um amassado no painel do lado direito (que eu nem sequer havia visto antes, só quando ele me disse). Perguntei quanto dava pra fazer, ele foi verificar com o gerente. Voltou e me disse o preço, achei que estava sonhando, perguntei se tinha outros problemas, se dava pra dividir aquele preço e se não tinha mais nenhum problema funcional. Ele me falou que não, ainda por cima dividia em dez vezes. O preço era menos da metade dos outros que eu estava pesquisando de outra marca.

Comprei na hora, sem dúvida nenhuma. No outro dia o fogão já estava entregue, em mãos. Verifiquei se não tinha outros problemas, testei todas as funções e pronto. Tudo perfeito! Por menos da metade, era meu presente de dia dos Pães, pois demorou tanto que foi chegar depois do dia dos pais, mas foi como eu queria. Minha mãe ficou satisfeita e meu pai também com as comidinhas feitas, até os amigos que também vieram conferir as habilidades do forno do fogão.

Às vezes na vida presentes e fogões são como pessoas e relacionamentos a gente demora para achar o presente ou a pessoa do jeitinho que a gente quer. A gente pesquisa, analisa, cores, tamanhos, funcionalidades, qualidades, beleza e muitas vezes leva o modelo mais novo, o mais bonito, lançamento... Quando na verdade queria o antigo, tem vezes que vem com um amassadinho da vida, um pouquinho nem tão perfeito no exterior, mas no fundo o que importa são outras coisas e a gente sabe disso, mas demora para perceber...

Cada rosto




















Tem rosto que me parece familiar
Tem rosto que parece de um estranho
Tem rostos que desconheço
Tem rosto que me traz nostalgia
Tem rosto que me faz chorar
Tem rosto que me faz sorrir
Tem rosto que me faz odiar
E ainda há aqueles que olho...
E não sinto nada!

Apesar de conhecido
É como se nunca tivesse olhado.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Vontades...


Era como se algo do passado retornasse ao presente com uma força e ao mesmo tempo temor. As coisas que antes pareciam fazer parte de um passado distante, agora se tornavam um futuro incerto e deserto. Não sabia como agir e qual sentimento retornava ao ver a presença de alguém do seu passado que ela julgara enterrá- lo há tempos. O medo de crescer tomava conta de seu ser... O que poderia fazer era amadurecer os sentimentos dentro dela.
Ela pensava que poderia viver das lembranças do que havia guardado, e que o presente poderia mudar o futuro, sentimentos e atitudes. Mas sempre o passado voltava e vivia a atormentar o presente que se mantinha ainda incerto perante o futuro.
Um grande amigo voltou a conversar com Mel e se comunicavam por mensagens. Foi quando ela começou a namorar, e logo após recebeu um telefone. Conversaram durante horas lembrando do que sentiam e coisas simples do passado e como tudo começou...

__ Boa noite pra você também. Fica com Deus! Você vai ter um sonho bom se sonhar comigo
hauhauahau, mas seu namorado não vai gostar disso, disse César.
__ Pesadelo só se for, você sem camisa jogando bola, resmungou Mel.
__ Adoro, corpo malhado!__ Tá vou esperar o corpo malhado só no sonho, mas minha imaginação é fértil pode deixar.
__ Chata! Fica com Deus, sonha comigo não!
__ Tá vou sonhar... mas vai ter que sonhar comigo que sou um anjo...
__ Anjo eih, a tá! Tenho até medo, ou vou lá, beijo. A gente se econtra semana que vem
porque vou viajar amanhã.
__ Boa viagem! Beijo.

Durante alguns dias conversaram e sentia que as coisas estavam ficando diferentes... E foi no boa noite que percebeu isso. Então, passaram a conversar quase todos os dias. Uma semana depois...

__ Oi....joia?
__ Bem e você?
__ Bem, foi na missa?
__ Fui sim, porque nao foi?
__ Tinha reunião, foi o Pe. José? Queria ter ido...
__ Foi ele mesmo, boa como sempre, além de ter eu lá!
__ Ui delíciaaaaaa!
__ Adoro, saudade de você mesmo. Desde o ano novo que não te vejo ou melhor depois do carnaval!
__ Pois é, e você o que fez no carna?
__ Viajei. E você aprontou todas no carnaval??
__ Um pouco, teve muito bom!
__ Imagino, saudade da solteirice.
__ Só lamento, mas o namoro ta firme firme?
__ Firme igual prego na areia!
__ Mesmo?
__ hum....
__ Oh trem tá feio, mas nada que muito álcool e drogas não resolvam! To zoando, mas sabe quando o trem começa a ficar morno, rotineiro, sei lá! Peteco...
__ Sabe aquele dia que te gritei na rua?
__ Sei, que mico! Eu tava comendo uma banana na avenida.
__ Meu pai falou que você é muito bonita, é pra acabar!
__  Era seu pai? Não vi direito passou rápido.
__ Agora agradeça seu pai pelo muito bonita. Porque de você só recebo, tá gorda, tá acabada, só come...
__ Só brinco, você até que é bonitinha!
__ Nossa, bonitinha é feiinha arrumadinha! Você está namorando?
__ Não, por quê?
__ Só pra saber...
__ O povo devia querer só pegar sem compromisso, povo quer coisa séria. Se você não quisesse compromisso até dava uma chance para você, brincadeira viu!
__ Pois é, eu estava pensando seriamente e acho que aproveitei pouco essa vida.
__ Então, se não quisesse compromisso.....
__ Vou pensar na proposta....
__ Pensa ai, vai perder.
__ Perder o quê? Nessa vida se você perde algo ganha experiência.
__ Que experiência você está ganhando?
__ Estou descobrindo o que quero pra mim.
__ Boa!
__ Homem dá trabalho demais!
__ Tem que ser sem compromisso, te falo uai!
__ Ai, para com as propostas indecentes...
__ Tá bom, vai perder hehe!
__ Se eu aceito...
__ E vai mesmo.
__ Quando a propaganda é demais a gente desconfia, sou igual são tomé, tem que ver pra crer.
__ Uai, só querer.
__ Já disse pra não provocar...
__ Por quê?
__ Quem procura acha, quem provoca, também é provocado!
__ Estou procurando pra achar.
__ E o que exatamente quer achar?
__ Para um bom entendedor pingo é letra.
__ Posso pensar o que eu quiser do pingo?
__ Pode, mas pensa no melhor.
__  Um pingo pode ser "n" coisas.
__ Mas tem umas melhores!
__ Está bem, continua me provocando, depois vem reclamar. Minha imaginação é fértil tanto quanto a sua.
__ Mas é para ser fértil. Você tá entendendo o que tô falando.
__ Um dia vou escrever um livro da minha vida pra depois eu ler, e não esquecer dessas coisas.
__ Ridícula, tenho até medo o que vai sair nesse livro.
__ De boa minha vida e meu passado não me condenam, pelo contrário. Por enquanto tá fraquinho o livro, mas ainda posso apimentá-lo.
__ Adoro! Vou fazer parte do livro?
__ Depende da sua atuação, se fizer por merecer ter um papel importante.
__ O que eu tenho que fazer então?
__ Bom de acordo com sua imaginação, ela não é fértil, então use-a!
__ Não sei se o que eu te falar vai te agradar, entao prefiro que fale.
__ Eu? Sou machista prefiro que os homens tomem a dianteira.
__ Mas do que eu estou tomando a dianteira?
__ Uai sei lá o que pensou? Homem só pensa em naquilo, mas vou fingir que não pensou isso. Amanhã vou ficar com vergonha de você, só falei besteira.
__ Minha mente é pura, vergonha nada, Quero fazer parte do seu livro nas mudanças.
__ Às vezes eu queria chutar o balde e dar uma de louca.
__ Não to falando de loucura, estou falando de vontades. É "vontades"...eis a grande palavra.
__ É difícil nao passar vontade nessa vida. Ultimamente tenho tido muitas vontades e pouca coragem...
__ Então, estou afim de ajudar você nessas coragens que talvez sejam as minhas também.
__ Sério? Acho que são sim. Aquele dia que estava bêbado na última festa e me disse: eu te odeio... me deu uma vontade...
__ De...? Você sabe que não te odeio, sabe sim... E você às vezes não sabe das minhas vontades.
__ Eu sei que não me odeia. Acho que também sabe das minhas vontades. Mas falando sério, achava que era coisa da minha cabeça.
__ Não é, são da minha também e você sabe, pelo jeito que te trato, pelo jeito que te olho e pelas coisas que converso com você.
__ Demorei pra perceber as minhas vontades em relação a você.
__ E eu pra falar.
__ Mas é serio, falando claro nunca tive segundas intenções com nenhum amigo antes, mas com você tem um calorzinho a mais.
__ E te falar que jamais pensei que falaria isso pra você. Você me conhece sabe que eu não tenho nove horas com as pessoas, mas pelo falo de você ver como eu te olho, te trato sabe que sempre tive segundas intencões contigo, mas também jamais pensei em te falar.
__ Também nunca pensei em te falar. Mas minhas amigas sempre falavam nossa o César é isso, o César aquilo e pensava “hmmm nem é tudo isso!”
__ Chata!
__ Mas daí é uma coisa que a gente nao controla! Sem compromisso, só farra boa. Minha vida já está de pernas pro ar mesmo.
__ Primeiro a gente bagunça e depois a gente vê. Só estou falando o que penso e quero. Sempre falava brincando pra não dar muito na cara, mas agora sabe que é verdade.
__ Tá me dando um trem na barriga que vai subindo, vou nem dormir essa noite.
__ Bom ou ruim?
__ Nem sei, deve ser bom! Eu acho... Só tá aumentando a vontade. Sabe que não estou brincando também, né?!
__ Espero que não, por que eu também não estou.
__ Você sempre leva as pessoas para o mau caminho.
__ Queria levar era você.
__ Está conseguindo...
__ Quero conseguir de verdade.
__ Você tá chegando no limite da provocação...
__ Quer que eu pare?
__ É por que a vontade pode ficar incontrolável.
__ Amanhã a gente se fala mais, se tiver coragem.
__ Eu sempre tenho coragem, vai amanhã que se quiser falo na sua cara. Lógico que sem ninguém ver.
__ Tá bom... se eu ficar bêbada posso falar na sua cara também.
__ Vou dar uma saída agora, fazer rolo.
__ Vai lá faz por mim e por você.
__ Adoro! Pode deixar, vamos? Arrumo um gatinho pra você.
__ hmmmmm só se for bem bem gatinho....
__ Do meu nipe, pra começo tá bom!
__ Tá bem acabadinho, mas dá pro gasto.
__ Chata!
__ Que vão fazer? Beijar na boca, beber, e ....
__ Conversar...
__ Ahh! Isso é fazer rolo, então me leva pra fazer rolo também uai!
__ Adoro conversar!
__ Também!
__ Beijo, fique com Deus.
__ Com Deus também, beijo!
__ Amém!

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Casa em ruínas

Começou pelo telhado a destruição daquela casa. Tinha paredes e grades brancas, portas de madeira e venezianas cinzas. Era bem antiga e simples a construção. Foram sendo retiradas, telha por telha, depois janelas e portas. Outro dia, pela manhã, o restante foi destruído. Como uma simples brincadeira de criança o trator foi destruindo tudo ao redor. As paredes que sobraram, também, se foram e só restou um quartinho dos fundos. Muitos tijolos, terra, poeira, casa no chão. Sempre que olhava para ela me remetia a um sentimento de carinho, amor inacabado, nostalgia que também precisava acabar. À medida que fui vendo aquelas ruínas foi morrendo o sentimento, os momentos, as lembranças que ela me trazia, foram desaparecendo. Logo, ali estaria construído um prédio, um restaurante algo diferente e ninguém mais se lembraria daquela casa branca. Às vezes é preciso mudar o coração e destruir as muralhas da mentira, da ilusão que inventamos; desarmar o coração. O difícil é começar a construir do zero. Tem horas que o coração anseia por algo novo, diferente. E outros momentos que precisa de continuidade, perseverança, um fio de esperança, de eternidade. A gente muitas vezes se cansa de recomeçar. Foi assistindo aquelas ruínas que precisei destruir coisas aqui dentro. Como construção velha sempre tem um quartinho que ainda insistimos em manter, reconstruir com os destroços e guardar alguma coisa. Mas chega uma hora que tudo isso, também, precisa deixar de existir. Nova construção, começar pelos alicerces e depois o restante aos pouquinhos. Lembro muito nos momentos em que vivi ali e só ficaram na lembrança. O lugar já não é mais o mesmo, é também saudade da infância, quando as coisas eram tão simples e a única preocupação era em guardar os brinquedos pra mãe não se zangar. Tudo já era bem definido na brincadeira. Quem era o namorado de quem, quantos filhos já tinham e mais quantos iam ter, para onde iam viajar nas férias. Por que depois que a gente cresce fica tão difícil construir nossa história? A gente complica e implica com tudo. Antes era só montar a casinha, colocar os móveis no lugar e contar a história. Mas a melhor coisa era a montagem de tudo, colocar as coisas onde a gente queria. Montar a cozinha, as cadeirinhas, o quarto, a cama, a penteadeira, a sala, a televisão, o sofá, a mesa na sala de estar. Viver ali era tão simples até a mãe chamar para o jantar.

Praça da aventura ou do medo?

Tem dias que é difícil arrumar dinheiro para sair. Na cidade de Uberaba todo mundo que começa a namorar engorda, porque os únicos lugares para sair é para comer. Sem dinheiro, sem carro, e com um pai bravo em casa, restam poucos, ou nenhum lugar para namorar. Demoramos muito para achar um lugar ideal e, nessas andanças, encontramos o nosso cantinho secreto. E foi difícil de encontrar; as mais claras, não têm clima e as que são escuras tem perigo. Num dia desses apareceu um rapaz que descia a rua em direção à praça. Quando nos viu, mudou seu percurso e foi até nós. Ele se aproximou. Estava sujo, com aparência estranha, parecia estar chapado. Era negro e apresentou uma carta que dizia que ele acabara de sair da prisão. Meu namorado também era negro, mas a carta parecia de “alforria” e ele pretendia nos amedrontar. Até, então, não sabia ao certo se ele tentava nos intimidar ou se era mesmo perigoso. Foi falando que queria dinheiro, e o que era óbvio: não tínhamos ou, então, não estaríamos ali. Ele estava muito drogado e queria comprar mais. Dizia que tinha matado um cara e que estava armado. Mas o que mais parecia era que tinha apanhado, por causa de alguma dívida. Parecia estar desorientado atrás de dinheiro, em abstinência. Eu estava abraçada com meu namorado e sentia uma batida forte e acelerada em seu peito. Minha bolsa estava no colo e num movimento rápido meu bem se levantou e tirou a carteira da bolsa, na qual haviam somente dois reais. O cara queria cinco reais e não tínhamos. Daí ele diz: __ Eu troco cinco reais pelo meu revólver e colocou a mão para trás. Eu fiquei imóvel e só rezava para o nosso anjo da guarda nos proteger. Afinal, não tinha mais o que fazer. Então, vi ao lado do nosso banco uma caixa de sapato com um tênis. Mostramos para ele. Foi o que o distraiu. Enquanto revirava a caixa, esfregava a nota de dois reais em sua boca sangrando. Pedi que ele levasse. Depois de chutar a caixa e perceber que era mesmo um tênis, aproveitamos a distração e colocamos o capacete. Ele olhou o que havia dentro e gostou. Despedimos dele e fomos embora. Até hoje me pergunto quem estava com mais medo: ele, ou nós ali naquela praça escura? Acho que não saberei nunca. Mas de uma coisa eu sei: mesmo depois daquela noite, no outro dia, estávamos lá novamente. Afinal, é nosso cantinho secreto e não saímos espalhando por aí. Nos dias atuais, achar a pracinha ideal é um desafio. (CARVALHO, Andréia Rosa de. Jornal Revelação. Jan 2010.)

terça-feira, 16 de abril de 2013

Pés descalços

Saiu de casa, repentinamente, e foi comprar sapatos novos e ao olhar a vitrine percebeu que havia um exatamente igual ao o que ela havia tido um dia. Mesma cor, mesmo número, mesmo detalhe, mesmo salto, mesma estampa. Ela sabia que queria algo semelhante, mas ao mesmo tempo diferente, novo. Ela havia se apegado a como era bom estar vestindo aquele calçado. Procurou entre milhares de pares e nenhum era como o que ela queria, foi à diversas lojas. Porém não encontrava nenhum que fosse exatamente como ela queria e do tamanho que lhe servia. Às vezes o modelo era extravagante, mas servia. Ou exatamente como ela havia imaginado, sonhado; entretanto era maior, outras vezes menor, não lhe cabia,. Olhou, vestiu, calçou, caminhou com alguns para ver se era bons, confortáveis, macios, bonitos, amáveis. Alguns a machucavam, outros não entravam, outros excediam e deixavam o pé muito livre, ficavam saindo do pé. Procurou, revirou, andou de lugar em lugar de loja em loja e não encontrou. Sempre que colocava se lembrava da história daquele sapato que foi usado, gasto, sujo, perdeu um pouco do brilho, da cor, mas continuava sendo o seu predileto. Se lembrara quando o viu pela primeira vez. Eram milhares espalhados, mas ela olhou diretamente para ele, mesmo na hora estando vestindo outros calçados. Dançou com um que a apertou, outro que saltava do pé, outro que nem entrou. Mas quando percebeu que ao longe de todos aqueles belos pares, lá estava ele a esperando, foi em sua direção. Parecia que já se conheciam, e com certeza já tinham se visto antes. Sabiam que eram o mesmo número; sapato e pé. Porém há muito tempo não se encontravam, nem ao menos haviam um dia conversado e nesse dia depois de beber um pouquinho mais eles se calçaram. Sapatos e pés do mesmo tamanho, se beijaram por uma noite toda, sem parar, sem se cansar, ao som de música, bebida e diversão. Seus lábios se tocavam como se aquela fosse a última noite na qual se tocariam, como se não houvesse outra oportunidade, outro momento igual. Sentaram e conversaram sobre como seria bom que aquela noite durasse por mais tempo, dias, meses, anos, para sempre. Ou que talvez não passasse dali, ou, também, poderia continuar um poucos mais... E naquela conversa sabiam que se encontrariam novamente. No outro dia, era muita gente, muitos sapatos, muitos pares errados, desencontrados. Até que de costas ela o avistou o cumprimentou e não mais se cansava de tocar suas costas, seu peito, seu pescoço, seus lábios e o que mais parecia é que só duraria ali mais aquela noite e que pareceu a noite perfeita, com o par perfeito, o sorriso satisfeito, a esperança refeita. Após três dias recebe uma doce mensagem que enchera seu coração de alegria: “Bom dia, meu anjo, tudo joia?! Já estou com saudades dos seus beijos.” Mais longos três dias e ele ligou, disse que andava com saudades de aquecer aqueles pés tão soltos. Ela também sentia saudades, mas não acreditava que era uma simples realidade, que era verdade. Mais três dias: “O que tá fazendo agora? Quero te ver hoje, o que faço? Então, to com saudade de você, queria matar essa vontade. Beijos linda.” Então, conversaram combinaram, mas choveu, e assim não tinha como se ver. “A melhor coisa a se fazer nessas horas é ficar bem pertinho da pessoas que a gente gosta, e isso que eu quero ficar pertinho de você”, dizia a mensagem. A chuva não parava continuou durante longas duas horas. Já era tarde e a chuva não cessou era impossível se encontrar... E depois um pedido de desculpas por não terem se encontrado. “Espero que não fique com raiva de mim, quero muito ficar com voce linda! Assim foi durante a semana com mensagens de saudade e vontade de se ver. Mas uma semana de espera, na quinta não deu certo e na sexta mais uma mensagem. E, enfim, o primeiro encontro depois do último carnaval. Se olharam durante um longo tempo, se beijaram por mais tempo ainda. Ao som de uma boa música passaram aquela agradável noite. A vontade era de que aquele dia não acabasse, de que o abraço se eternizasse, a esperança não acabasse e o sorriso permanecesse sempre. Depois um cinema com muitos beijos molhados. Por fim, um sorvete com calda bem quente para aquecer a relação... no final da noite um pedido de namoro. Parecia ser inacreditável como ali naquele momento muitos sonhos antes adormecidos poderiam estar voltando a ser reais ou naturais somente, comuns naquele momento. Passaram a se ver mais, se gostar mais, se querer mais. Os desejos antes adormecidos, reprimidos, desiludidos voltavam a reaparecer aos poucos, com um pouquinho de carinho, um abraço apertadinho e após um beijo bem dado e selado ela podia sentir-se feliz, a vontade e em paz de novo. Apesar das diferenças foram se acostumando um com o outro, se conhecendo melhor durante um tempo... Então, de uma hora para outra, depois de dois dias sem se ver ela conheceu um sapato novo, diferente daquele que ela conhecia. Menos carinhoso, menos amoroso, menos confortável, menos cuidadoso, mais perigoso. Mas não percebeu no mesmo instante. Ainda esperava que uma hora chegaria a mensagem de quero te ver, estou com saudades, estou com vontade de você... A mensagem não chegou, a insegurança aumentou, o sentimentou atordoou o coração. Nesse momento ela passou a sentir o aperto que aquele sapato lhe causaura, o apego que ele se tornara. Era sempre ele em seus pés indicando a direção por onde ela deveria andar. Apesar de não ter ciência de todos esses poderes continuava ditando seus caminhos, incitando seus medos, provocando conflitos. Foi num piscar de olhos que tudo mudou e as bolhas causadas no pé inchando indicando que ela não poderia mas usá-los; dor insuportáve! Quis retirá-los, porém não conseguiu, a vontade de tê-los era maior. Chegou uma hora que de tanto usá-los... arrebentou, se soltou sozinho e o único caminho foi caminhar no chão, sem sapatos, sem proteção, sem segurança, sem conforto. O difícil é quando depois de tropeçar tanto, caminhar tanto, sujar os sapatos você ainda quer continuar vestindo o mesmo par, número errado.... enquanto o melhor é calçar novos. Então, se deu conta de que não precisava daquilo, pois haviam milhares de outros do seu tamanho. E haveria um que se encaixaria bem melhor em seus pés...

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